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PROJETO LITORAL_CICLO | – ENSAIO DRAMATÚRGICO | POÉTICO

Foi uma caminhada longa e solitária. Mesmo sem nenhum marco ou referencial, você sabe que chegou e é hora de parar. Ao olhar em sua volta, nenhuma árvore, nenhuma cidade, nenhum indício de vida. Tudo é escuro e silencioso. Era o que você precisava. Os únicos sons são aqueles provenientes do seu próprio corpo: inspiração, expiração, batimentos cardíacos. As luzes, apenas aquelas vindas do céu. Uma estrela cadente passa se destacando no manto escuro da noite. Há tambem uma luz avermelhada chamando a sua atenção. Diferente das demais fontes de luz que você vê no céu, essa parece não piscar. Seria impressão?

Quanto mais você olha para aquela imensidão celeste, maior o número de pontinhos cintilantes seus olhos são capazes de detectar. Impossível contar, mas com certeza você está observando milhares de estrelas, milhares de outros sóis. Você escuta seu coração desacelerar e já nem percebe mais os sons de sua respiração.

Você se deita sobre a relva, sem tirar os olhos do céu. Você se sente parte deste planeta, mas nunca sentiu uma conexão tão grande com o espaço. Essas luzes parecem tão distantes, mas estariam elas próximas umas das outras? Próximas do nosso Sol? Algumas estrelas parecem formar imagens no céu escuro. Será que outra pessoa veria a mesma imagem que você? Não há ninguém por perto pra te responder.

Você sente que as horas estão passando, pois percebe que todas as estrelas estão se deslocando para o oeste, numa coreografia ensaiada e magistral. Incrível como, ao olhar para o céu, conseguimos nos conectar com essa quarta dimensão invisível que permeia a nossa existência: o tempo.

Quanto tempo leva para que a luz de uma dessas estrelas chegue até aqui? Você fixa seu olhar em uma estrela e imagina que se ela estiver longe o suficiente, ela pode já nem existir mais, mesmo que você esteja vendo sua luz neste momento. E assim, você percebe que está olhando para o passado…

Será que aquela estrela teve um sistema planetário um dia, assim como o Sol hoje tem seus 8 planetinhas? E num desses planetas que orbitaram aquela estrela distante, teria existido um dia condição pra vida? E se houver vida lá neste momento, como saber? E se houve vida um dia e ela se extinguiu, você nunca saberá? Você escuta seu coração acelerar enquanto pensa nisso.

Você gosta de sentir-se só, mas no fundo sabe que vive num planeta cheio de outras vidas. Você sente uma formiguinha subir na sua mão e se lembra que não há apenas vida humana neste planeta. Você tinha se esquecido disso. Será que nosso planeta, transbordante de vidas, está só neste Universo tão vasto e silencioso? Isso não deve ser possível! Mas como explicar este silêncio, então? Talvez você apenas não esteja percebendo os rastros de outras vidas, da mesma forma que estava alheio à coexistência da formiga.

Você grita bem alto: Alôôôô! Você quer que saibam que você está aqui, que você existe neste momento. Você quer saber se tem alguém do lado de lá, existindo também. Você grita, mas sabe que ninguém te escuta. Nem aqui na Terra, que dirá lá no Espaço. Você tenta ficar em silêncio, mas continua a não ouvir nada além do seu coração. Você fecha seus olhos mas continua a ver as estrelas.

Você busca dentro de si uma explicação para essa necessidade de respostas que te invade. Talvez devêssemos nos concentrar em resolver problemas práticos da nossa existência. Qual a importância de buscar novas espécies se não nos preocupamos em manter vivas aquelas que nos cercam? Para que descobrir novos mundos se não cuidamos no nosso próprio lar no espaço sideral? Talvez o silêncio do céu seja a prova de que não é possível sobrevivermos a nós mesmos. Se houver alguém ainda nos confins deste universo, talvez possa nos ensinar a viver de forma não auto-destrutiva… Ah, se você olhasse de verdade para as formigas, talvez pudesse já aprender essa lição.

Mas, você ainda está com os olhos fechados, pensando que talvez a questão fundamental de estarmos ou não sozinhos no universo seja o motor que leva a humanidade adiante. A busca pelo conhecimento e conexão com o cosmos induziu o desenvolvimento tecnológico e nos levou a descobertas cientificas que definem a sociedade em que vivemos hoje. Será essa a razão para a dúvida que te consome?

Você abre os olhos e é invadido pelas luzes celestes mais uma vez. E se já for possível sermos ouvidos em lugares nunca antes atingidos pelos ruídos humanos? E se detectassem finalmente minha presença, qual seria de fato a minha mensagem? Qual seria a NOSSA mensagem?

 

Ale Pacini

 

 

 

por em 07/07/2022 – 17:18h

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