A partir de relatos biográficos de cada um dos atores, a Cia. Hiato instalações dramatúrgicas e cênicas acerca de questionamentos sobre a necessidade de ficção e nossa impossibilidade de abandoná-la, dissecando em cena um processo cênico. Centrados nas relações dos atores com seus familiares, serão expostos depoimentos pessoais que se instalam em um espaço ficcional. As ideias de "intimidade" e "documento" associadas a um pensamento dramatúrgico em seis intervenções independentes que servem de matéria-prima para a criação do espetáculo "duas ficções".

Ficção #1 – Thiago Amaral
Thiago Amaral propõe a criação de uma ficção como pretexto para reatar laços com seu pai. Ao executar o projeto criativo de seu pai – "A extinção dos Coelhos Selvagens - acompanhado dele em cena, Thiago expõe as motivações pessoais de uma criação artística, unindo de forma indissociável sua vida à sua obra.

Ficção #2 – Aline Filócomo
Aline Filócomo expõe uma "enciclopédia de Alines impossíveis", desvendando os procedimentos usados na criação de uma ficção impossível, revendo os espetáculos que já fez, os espetáculos que sua irmã (também atriz) criou e aqueles que as duas nunca conseguirão fazer, para questionar os limites da imitação e da repetição.

Ficção #3 – Luciana Paes
Luciana Paes questiona a autoria em um processo criativo e colaborativo ao ficcionalizar sua desistência do fazer teatral diante de um projeto artístico inspirado pela artista Frida Kahlo, porém nunca realizado/ ou realizado por outra.

Ficção #4 – Maria Amélia Farah
Maria Amélia Farah relata a transição de Filha para Mãe, fundindo a experiência da maternidade com a experiência criativa. Ao relatar sua biografia e suas tentativas de matar sua mãe, a atriz evidencia sua própria relação com o fracasso e a crueldade da exposição de uma biografia.

Ficção #5 – Fernanda Stefanski
Fernanda Stefanski expõe, através de fotografias e reconstituições, uma tragédia familiar – o possível suicídio de seu tio - questionando os limites éticos implicados na coincidência entre arte e vida, repetição e impressão, ficção e realidade.

Ficção #6 – Paula Picarelli
Paula Picarelli torna-se personagem de si mesma, propondo dissecar os procedimentos ficcionais de uma entrevista real com ela mesma ou com a imagem ficcional que construiu para si mesma.

Ficha Técnica

Direção e dramaturgia geral:
Leonardo Moreira

Elenco:
Aline Filócomo
Fernanda Stefanski
Luciana Paes
Mariah Amélia Farah
Paula Picarelli
Thiago Amaral

Colaboradores:
Dilson do Amaral
Milena Filócomo
Pedro Tosta

Direção de arte (cenário e desenho de luz):
Marisa Bentivegna

Assistência de cenário:
Ayelén Gastaldi
Julia Saldanha

Figurino:
João Pimenta

Ambientação e efeitos sonoros (ficção - música original):
Kuki Stolarski

Pintura artística:
Igor Alexandre Martins

Núcleo de dramaturgia:
André Felipe
Diogo Spinelli
Mariana Delfini
Michelle Ferreira
Rafael Gomes
Thompson Loiola

Treinamento corporal:
Sônia Soares

Fotos e vídeos:
Otávio Dantas

Criação Gráfica:
Cassiano Tosta / dgraus

Produção, gestão e colaboração criativa:
Aura Cunha

Realização:
Elephante Produções Artísticas

Reviews

"É uma oportunidade de assistir o trabalho da Cia Hiato de São Paulo, dirigida por Leonardo Moreira, que protagoniza uma pesquisa interessada numa dimensão de jogo e abertura da linguagem cênica que, para além de qualquer didatismo ou programas teóricos, se forma numa esfera de atrito entre o mito, a ficção e os poderes do espetáculo como dinamizadores da realidade. (…) Em Ficção o personagem se mostra como ator e não se configura primeiramente como um todo, mas por um movimento que inclui o aleatório, as inversões, as máscaras, gestos falsos e inesperados e que dependem das intenções e de apreensões dele mesmo, ou seja, aparece uma "dança" intermitente de atravessamentos entre aparência e verdade. (…) Ficção é um trabalho do detalhe, um refinamento estético das pequenas coisas".

Dinah Cesare – Questão de Crítica


"Ficção é um pouco como um dos vídeos-diários de Jonas Mekas. Obsessivamente subjetivo. Honestamente impuro. Radicalmente original".

Lucas Mayor


"O fato é que da maneira como estão encenados, esses solos extrapolam o individual fazendo o espectador refletir sobre o coletivo, (…) O trabalho do elenco é primoroso merecendo todos os prêmios de interpretação do ano. (…) Corajoso e comovente, Ficção arranca lágrimas e faz pensar. Perfeito equilíbrio entre razão e emoção. E não é para isso que servem as artes?".

José Cetra – Palco Paulistano


"…distende a relação entre o modo de viver (o real) e os meios de criar (a arte) para tocar as proximidades da verdade e da mentira, do ator e personagem, da platéia e palco. O diretor Leonardo Moreira ensaia demarcar fragmentos da vida dos atores do grupo traduzidos em individualizados projetos cênicos. (…) Os relatos não são documentos dramáticos ou depoimentos emotivos, mas pretexto para se estabelecer ficções teatrais, formas de apropriação de linguagens que servem à montagem de um vácuo expressivo. Ficção preenche a distância proposta pelo hiato (não é à toa que a companhia adotou esse nome) e pelas aspas (reinvenção das vivências), numa intensa troca de códigos dos que estão no palco com aqueles que estão na plateia".

Macksen Luiz

Duas ficções

Espetáculo em processo, sem previsão de estreia.

A partir da ideia de "ficções que comportem ficções", a dramaturgia de "Duas Ficções" será estruturada como uma progressão geométrica, isto é, será elaborado em camadas complementares. De forma simples, diríamos que tal estrutura nos remete às famosas bonecas russas– uma série de bonecas ocas que são colocadas umas dentro das outras, da maior até a menor. Do mesmo modo, opera-se a dramaturgia: uma ficção que traz em sua diegese uma outra ficção que pressupõe uma outra ficção e assim por diante.

Elementos e conceitos coreográficos – inseridos através de treinamentos específicos - evidenciam as duplicidades e os simulacros que a dramaturgia sugere. Um desses simulacros, por exemplo: a atriz que copia uma atriz um filme interpretando uma atriz que representa uma personagem – sugere um jogo de múlltiplas ficções. Esse jogo provoca oscilações no corpo do ator. Cada vez que essa "oscilação" surge, há uma ruptura, uma descontinuidade. Não apenas a composição dos atores sofre uma mudança, mas também a ordem de percepção que os espectadores construíram é destruída e outra ordem tem que ser estabelecida. Ganha relevância o momento de instabilidade, o intervalo entre as mudanças de percepção, o limiar – em que uma ordem de percepção é alterada, mas outra ordem ainda não está estabelecida.

Afluente direto de "Ficção", esse novo espetáculo continua a investigar o hiato entre a ficção e a realidade. Entre esses dois limites impossíveis a qualquer representação teatral, há uma grande possibilidade de transgressões e hibridismos, já que as fronteiras entre os dois conceitos não são claramente desenhadas mas, ao contrário, sempre borradas. Neste lugar, entre a experiência e o depoimento real e a imaterialidade do jogo teatral – um espaço de deslocamentos e superposições de camadas ficcionais e reais – localiza-se o principal interesse da Companhia Hiato.